Dr. Marcos André Scussel
As empresas familiares representam uma parcela significativa da economia brasileira. Elas respondem por 90% das empresas e por 65% dos empregos gerados. Apesar disso, apenas 30% dessas empresas sobrevivem à segunda geração e apenas 15% chegam à terceira geração.
Um dos principais desafios enfrentados é a falta de planejamento e profissionalismo na gestão e sucessão. Muitas vezes, os fundadores centralizam as decisões e não preparam os sucessores adequadamente.
Para garantir a longevidade e o crescimento sustentável das empresas familiares, deve-se abordar diversos temas, como sucessão, transição, organização familiar e estrutura societária, de forma profissional. A implementação de conselhos consultivos e de família pode ser um passo importante nesse processo.
Além disso, mapear o DNA da empresa, entender as demandas e os objetivos dos sócios e alinhar as decisões com os valores e princípios da empresa são etapas a serem desenvolvidas. A diversidade, equidade, inclusão, integridade, transparência, equidade, responsabilização e sustentabilidade são valores inegociáveis na gestão. Já a implementação de conselhos, o planejamento sucessório e a valorização dos princípios éticos são elementos-chave nesse processo de profissionalização das empresas familiares.
Desafios comuns em empresas familiares
Empresas familiares, embora pilares da economia, enfrentam desafios únicos que podem comprometer a longevidade. Udo Kurt Gierlich, conselheiro e professor da Board Academy, destaca que um dos maiores problemas é a falta de planejamento em áreas importantes, como sucessão e organização familiar.
Segundo Udo Gierlich,
“Dentre tantas, uma das principais causas do elevado índice de insucesso de empresas familiares está relacionada à falta de coragem e ao desprendimento para abordar e tratar, a tempo e com o devido profissionalismo (via conselheiros externos), os assuntos relacionados à sucessão, transição, atualização (empresa), organização familiar (família), estrutura societária (propriedade), de forma isenta e blindada”.
A centralização de decisões nas mãos do fundador, como mencionado, é uma armadilha comum. Essa prática impede o desenvolvimento de uma gestão mais distribuída e pode gerar conflitos quando a segunda geração assume. A resistência à mudança, alimentada por fiéis escudeiros do fundador, também pode levar à obsolescência da empresa.
Para superar esses desafios, a governança proativa se apresenta como uma solução essencial. Implementar conselhos consultivos e de família pode criar um ambiente onde as decisões são tomadas de forma mais equilibrada e justa. Esses conselhos ajudam a mediar conflitos e a garantir que os interesses da família e da empresa estejam alinhados.
A governança proativa também envolve a estruturação da empresa, com papéis e responsabilidades bem definidos. Isso inclui a criação de um acordo de sócios, que deve estar integrado ao contrato social, para evitar disputas futuras. A atenção à entrada de novos membros da família na empresa, como filhos e cônjuges, também deve ser considerada para manter a harmonia e a eficiência.
Mapeamento do DNA
Entender o DNA da empresa é uma das etapas de qualquer processo de mudança. Isso significa mapear a cultura, a história e os valores da organização. Ir contra essa cultura pode gerar resistência e dificultar a implementação de novas práticas de gestão.
Identificar os fatores de influência, como a idade do fundador, o nível de escolaridade dos filhos e a estrutura familiar, também é importante. Esses fatores podem impactar as decisões e a dinâmica da empresa. Além disso, é essencial entender as demandas dos sócios e alinhá-las com os objetivos da empresa.
A sustentabilidade, a responsabilização, a equidade, a transparência e a integridade devem guiar a gestão das empresas familiares. Esses valores ajudam a construir a confiança, tanto interna quanto externa, e a garantir que a empresa esteja alinhada com as expectativas da sociedade.
A diversidade, a equidade e a inclusão também são importantes. Promover um ambiente de trabalho diverso e inclusivo pode trazer novas perspectivas e ideias, além de aumentar o engajamento dos colaboradores. A atenção a esses valores contribui para a construção de uma empresa mais forte e resiliente.
A transição para as próximas gerações
A transição para as próximas gerações é um momento desafiador para as empresas familiares. É importante preparar os sucessores adequadamente, oferecendo-lhes formação e experiência. A escolha do sucessor deve ser baseada em critérios objetivos, como competência e capacidade de liderança, e não apenas em laços familiares.
Os fiéis escudeiros do fundador podem desempenhar um papel importante nesse processo, ajudando a transmitir o conhecimento e a experiência acumulados ao longo dos anos. No entanto, é preciso ter cuidado para que esses colaboradores não se tornem um obstáculo à mudança. Mapear esses fiéis escudeiros e integrá-los ao processo de transição pode evitar conflitos e garantir uma passagem suave para a próxima geração. Ao adotar uma abordagem profissional e proativa, as empresas familiares podem superar os obstáculos e prosperar nas próximas gerações.